Começarei por citar o presidente da C. E. que "admitiu que a troika pecou contra a dignidade de portugueses, gregos e irlandeses, reiterando que é necessário rever este modelo e não voltar a repetir os mesmos erros". Apelidou ainda de "tratamento indigno" aquele que foi aplicado a estes 3 países da periferia do euro.
Em seguida, sinto-me tentada a referir os rasgados elogios de Schäuber ao nosso país sendo sua opinião que "Portugal é a melhor prova de que os programas de ajustamento funcionam, quando há tanta discussão sobre a eficácia dos ajustamentos associados à assistência financeira", reiterando que "Portugal, em conjunto com a Irlanda, é a melhor prova de que os programas funcionam e de forma mais eficaz do que muitos esperariam há quatro anos".
No seguimento das palavras do seu homólogo alemão, Maria Luísa Albuquerque teceu aos seus concidadãos rasgados elogios, cito, "bla, bla, bla, extrordinária resiliência do povo português, bla, bla, bla, extraordinária resiliência do povo português, bla, bla".
Por momentos, senti uma onda de orgulho e fervor lusitano a correr-me nas veias, seria capaz de jurar que elevei a minha mão direita até ao lado esquerdo do meu peito, qual criança que entra no Quadro de Honra da Escola Primária, pensei: "aqui está representada a alma dos nossos intrépidos antepassados, manada de vacas que segue como que anestesiada em direcção ao matadouro!?"
Neste momento, já ressoava em mim a palavra "resiliência", "Resiliência", "RESILIÊNCIA" e, qual revelação do resultado do Euromilhões, saí do meu torpor bovino/ lusitano e analisei os diversos sinónimos da palavra "resiliência" (estoicismo, invulnerabilidade, força, superação, coragem, resistência, recuperação), analisando em seguida, e mais por graça, os seus diversos antónimos (susceptibilidade, vulnerabilidade, fragilidade, fraqueza, comodismo, conformismo).
Minha cara Maria Luís Albuquerque, não sei em que livros estudou ou até se viveremos no mesmo país porque nunca, repito, NUNCA se tratou de resiliência porque os portugueses que eu reconheço não são estóicos, são conformados; não são invulneráveis, são acomodados; não são fortes, são de brandos costumes; não superam, sujeitam-se; não são corajosos, são comodistas; não resistem, conformam-se e muito, muito dificilmente irão recuperar de um ensaio de modelo de recuperação económica desastroso e indigno, no qual somos meras cobaias, estando irremediavelmente destinados ao fracasso, fado de quem esqueceu a sua identidade, o seu orgulho, o seu sentido de justiça e segue, cabisbaixo, a caminho do suicídio moral colectivo de um país que um dia sonhou Abril.