Os meus fieis e leais seguidores devem estar a perguntar-se porque razão fui eu buscar uma publicação dos idos anos 60 para misturar com esta página repleta de temas actuais e fracturantes. Passo a explicar:
Há alguns anos atrás, após o meu 1º divórcio e chegada ao fim a 1ª união de facto, pós 1º divórcio, fui abordada por um vizinho, cuja mulher me fazia sua confidente, que me perguntou qualquer coisa como isto - "Tenho que te pedir um favor... tu tens muita experiência nestas coisas do amor e podias ajudar-me a reconquistar a minha mulher, davas-me uns conselhos...". Ali estava eu, especada no meio da rua, com vontade de fugir, as chaves de casa a queimar-me as mãos, sabendo que bastava ter subido o passeio para me livrar deste embaraço. Pior, estava ainda mal refeita dos meus dois primeiros fracassos amorosos e apenas conseguia pensar - "Só podes estar a gozar? Qual é a parte das separações que tu não percebeste? Experiente no amor? Por favor, se eu fosse experiente estava aqui a ouvir-te?".
Rapidamente, como sempre, aliás, recompus-me e devo ter debitado algumas frases feitas sobre o amor, sem qualquer relação com a minha "alegada" experiência e deixei-o mais reconfortado. Segui o meu caminho, lamentando conhecer o desfecho da sua relação pois a sua mulher já mo havia confidenciado mas eu não tive coragem de lhe partir o coração. Vim a saber mais tarde que estão divorciados (espero que não por causa dos meus conselhos).
Malgré tout, pela minha vida fora fui sendo confidente leal e silenciosa de um sem número de amigos e amigas. Já estou cá há anos suficientes para ter vivido, visto e ouvido todo o tipo de queixas, amuos, discussões, infidelidades, sofrimento, raiva, despeito, incompreensão, desrespeito, etc. Resolvi agora, chegada à idade adulta, partilhar convosco a minha extensa sabedoria nestas andanças do amor e desamor com o sincero intuito de evitar engrossar as filas da Conservatória do Registo Civil ou dos Tribunais de Família com casos extremos (em número e em género) como os meus.
Assim sendo, vamos ao que interessa...
CAPÍTULO I
Devo "vigiar" a página de Facebook do meu namorado, marido ou ex?
O bom senso e o politicamente correcto obrigam-me a dizer que não, não deve fazê-lo de todo. Uma união deve ter como pilar fundamental a confiança e o respeito mútuos. Se o seu companheiro está consigo, é porque quer e porque gosta realmente de si.
Muito certamente, se ele usar o Facebook para a trair, entenda que não o poderia evitar, simplesmente porque ele fá-lo-ia de qualquer maneira.
E o Facebook é só um caminho, cada um escolhe a maneira de o percorrer mas, grosso modo, as coisas não são assim tão diferentes do nosso dia-a-dia.
Claro que isto é muito bonito empiricamente falando. Na realidade, existe um Sherlock Holmes dentro de cada uma de nós à espera de começar a investigar ao mínimo sinal de alarme. Não conseguimos evitar, está muito presente no nosso código genético esta necessidade de investigar, apurar e extrapolar o comportamento do nosso cônjuge.
Quando recebi os primeiros sinais, comecei uma investigação tão apurada, tão apurada que consegui saber mais da vida das amigas virtuais do meu marido do que ele próprio (contagem de likes, comparação de datas, identificação de perfeitos desconhecidos, de locais e tanto mais). Evidentemente, nada consegui evitar e quando passaram de virtuais a pessoais, não fizeram publicações nem actualizações e eu nem tive tempo de "fechar a sessão" antes do "crash" final.
Informática à parte, já consigo rir-me do ridículo, triste e desnecessário que é andar à "pesca" no Facebook. A realidade é que, enquanto estava ocupada a pescar peixe miúdo em águas virtuais, a rede do meu marido já levava uma boa dose de pescado lá dentro.
Ficou como lição aprendida e decorada!
Bem sei que a nossa curiosidade mórbida nos leva, de tempos a tempos, a dar um passeio pelos perfis de quem já foi tão importante para nós, quanto mais não seja, para ver como estão a sobreviver sem a nossa (in)dispensável presença com a vã esperança de que eles nunca mais encontrem a felicidade com quem quer que seja ou que estejam a sofrer horrores à conta do arrependimento ou que tenham uma companheira mais nova e mais esperta que os faça provar o próprio veneno tão cedo quanto possível.
Se bem pensei, melhor o fiz e encontrei a frase quase infame - "Numa relação".
Rapidamente, o diabinho que vive no meu ombro aconselhou-me a deixar um sem número de comentários pouco elogiosos, repletos do mais perfeito vernáculo tripeiro, até porque ainda somos casados, logo, poderia exercer o meu direito à indignação de modo perfeitamente legal.
Felizmente, veio em meu socorro o meu anjinho do amor-próprio e da auto-estima que me arrancou bruscamente do meu portátil (não sem que antes anotasse mentalmente o nome de cada um dos amigos que fez like na tal publicação como se de uma segunda traição se tratasse). Tive tempo ainda para reparar que o meu futuro ex-marido afirmou não estar comigo há 4 anos, roubando-nos 2 anos de vida em comum!
Ora bolas, quem será o cavalheiro que, durante esse período, comigo partilhou a cama em noites de tórrida paixão, a mesa em jantares feitos por ele e a roupa lavada?
No entanto, as notícias são muito boas para as minhas amigas: ao fim de 2 anos, luto feito, coração refeito, a vida já nos sorri e a memória do casamento já se esfumou há muito, reduzindo a menos que nada aquele que connosco ficaria "na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza até que o Facebook nos separe".
A vossa amiga de sempre
Cristina Magalhães