sábado, 10 de outubro de 2015

SOMOS FILHOS DO MESMO DEUS

Não era minha intenção retomar este assunto, até porque, as posições extremadas que tenho visto ultimamente, causam-me um sério desconforto. No entanto, acho que me devo posicionar em relação aos refugiados sírios.
E, a posicionar-me, terei que me solidarizar com todos eles. Antes de me pronunciar, procurei toda a informação disponível sobre o conflito. 
Muito resumidamente, em Março de 2011, houve uma insurreição contra o regime totalitário de Bashar Al-Assad. A partir desse dia, as tropas governamentais tomaram conta das principais cidades e estradas mais importantes do país, utilizando a fome como arma contra os civis. 
Entretanto, as forças opositoras do governo enfrentam, desde 2014, os ataques dos jihadistas islâmicos em busca da supremacia do Estado Islâmico.


Contabilidade feita, os números chegam 
avassaladoramente dramáticos:
- Cerca de 4,5 milhões de deslocados, dentro do país;
- Cerca de 2,4 milhões de pessoas refugiadas em países vizinhos, alvos de racismo e discriminação;
- Cerca de 5,5 milhões de crianças têm as suas vidas devastadas pela guerra;
- Cerca de 1 milhão de pessoas presas em áreas sitiadas onde a ajuda humanitária não consegue chegar;
- Cerca de 1,200 milhões de pessoas vivem refugiadas, morando em locais insalubres, onde a comida e a água potável têm um uso restrito;
- O número de refugiados sírios, no Líbano, na Jordânia, no Iraque, na Turquia e Egipto deverá chegar aos 4,1 milhões de pessoas. Outras 9,3 milhões precisarão de ajuda até ao final de 2015.

Extrapolados ou não, estes números são representativos da violência que está presente no dia a dia destas pessoas. Pessoas, como qualquer um de nós, que acordam um dia no meio de um conflito que não desejam e, cuja necessidade básica a partir dessa data, passa a ser a sobrevivência, sua e dos seus.

Afigura-se-me bastante improvável que, em pleno cenário de guerra, destruição, morte e horror, este povo tenha sangue frio para urdir um plano maléfico com o intuito de  invadir a Europa e "muçulmanizar-nos" de uma vez por todas, nem que seja para cumprir o descrito no maléfico mapa islâmico da Europa (no qual Portugal é um alvo apetecível).

Não consegui deixar de reparar que o ódio tão criticado nas facções radicais do estado islâmico seja o mesmo que senti nas mais diversas publicações e, pior, ante a "invasão dos mouros", ressurge do Inferno, de onde nunca devia ter saído, o nacionalismo. Este sim, é um verdadeiro perigo cujo único propósito é incitar ao ódio entre os povos e às limpezas étnicas.









Como é possível olhar para estas imagens que nos mostram onde a inocência se perde no dia a dia destas crianças e não sentir a urgência de as retirar de tão dantesco cenário? E conseguem imaginar os nossos filhos a matar para não morrer? Sim, os nossos filhos cujo maior drama é não poder comprar o último modelo das sapatilhas da  Nike ou ter que lidar com o mau feitio do professor de Matemática. 

Migrantes? Migrantes? Os migrantes têm opção, escolhem viver noutro país pelas mais variadas razões. Estes são sobreviventes, refugiados, despojados, expatriados, exilados, proscritos da sua pátria. Não escolheram a guerra, não escolheram a destruição, o caos e a morte. Simplesmente, um dia,  as suas vidas deixaram de fazer sentido. Tudo o que conheceram até então, ficou reduzido a escombros. 
É tempo de pegar na família e tentar fugir, ainda que lhes custe a própria vida, fugir do Inferno que tudo lhes roubou. Sem casa, sem roupas, sem documentos, sem dignidade, sem passado, sem presente e sem futuro, sujeitos à ignomínia de quem vive à custa da desgraça alheia, navegam em direcção à Europa, destino que se lhes afigura paradisíaco. 
Para trás ficam a sua amada pátria, as suas raízes, às quais, estou certa, a maioria sonha voltar, viagem de vinda com o coração posto no regresso. 
Como povo católico, piedoso e crente que nos orgulhamos de ser, só nos resta receber estas pessoas condignamente. Deixemos de lado os temores, os ódios, as más vontades, as facções políticas ou religiosas. Façamos jus aos ensinamentos da Santa Madre Igreja, fazer o bem sem olhar a quem, dividir o pouco que temos com quem tem menos ainda.
Acabadas as formalidades, deixemos este povo dormir, usufruir do luxo de fechar os olhos sem medo, há já tanto tempo esquecido. Recebamos estas crianças, tornadas adultas na dor tão precocemente. Vamos dar-lhes o lar possível, colo, comida e, sobretudo, um local seguro onde possam restaurar os seus corpos, a sua dignidade, a sua fé, o seu sossego. Talvez consigam um dia esquecer o monte de escombros que ficou para trás das suas costas. Talvez possam sonhar com o regresso. Talvez possam sonhar com a paz.



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