domingo, 29 de maio de 2016

A PSIQUIATRIA AO ALCANCE DE TODOS

Hoje, um qualquer domingo de Maio, acordei com pensamentos mais ou menos profundos sobre o significado e função do meu psiquiatra na minha vida.
Eu sei, há assuntos mais agradáveis e leves para se reflectir enquanto se lê o Público de ontem com a torrada a escorrer manteiga para cima do café acabadinho de coar... sim, coar porque o meu café está isento de tecnologias que lhe roubam toda a carga simbólica de que ele se deve revestir (acredito que é nas nossas memórias que os castanhos e aromáticos grãos conservam o seu sabor).

Não há volta a dar ao assunto, hoje é mesmo psiquiatria e, qual epifania dominical, ocorreu-me que um psiquiatra mais não é do que o espelho do nosso velho roupeiro que não queremos ver, para o qual nos recusamos olhar ao longo da nossa vida (porque nos faz mais baixas ou mais gordas ou mais macilentas).

Nós, comuns mortais, não passamos de um gigantesco roupeiro e cabe ao psiquiatra a dura tarefa de fazer a limpeza a fundo, a cada mudança de estação.
A nossa vida vai ficando dentro do roupeiro e, em vez de fazermos uma limpeza pontual mas rigorosa, vamos atirando lá para dentro o vestido que não serve, o colar que agora é feio, os sapatos vergonhosamente gastos mas que nunca o estão na hora de deitar fora... e aquela carteira? É impensável viver sem ela!.

E assim seguimos pela vida fora, passando pelo exterior e muito rapidamente um paninho, "mais ou menos quente", que nos permita ter a casa "arrumadinha", não vão aparecer visitas de repente.
Nós não sabemos mas o psiquiatra sabe que, quando o roupeiro enche, enche desmesuradamente, havendo sérios riscos de sucumbir ao peso que acumulamos ao longo dos anos.

São caixas e mais caixas que vamos acumulando furiosamente, arquivando, com ou sem datas (que importa?) a caixa dos corações partidos, a caixa das frustrações, a caixa das vergonhas, a caixa da infância, a caixa dos pais, a caixa dos filhos, a caixa da auto-estima, a caixa do auto-conhecimento, a caixa do medo e, usualmente, a maior, mais pesada e mais feia é caixa da culpa, adquirida das mais variadas maneiras ao longo dos anos.

Deste modo, rapidamente, somos conhecidos como heróis, guerreiros, corajosos, capazes de enfrentar qualquer contenda ou desgraça com pontaria certeira e perseverança infindável. E, sim, seguimos a nossa vida com o nariz bem empinado certos de que este é o caminho certo para se estar de bem com a vida, aliás, "se tivermos mais que fazer, não temos tempo para traumas nem para psiquiatras"!


E, um dia, acontece connosco, o roupeiro cede ao peso, espalhando as caixas e respectivos conteúdos pelo chão da nossa vida.

É nesta altura que começamos a ter comportamentos de defesa e pode aparecer o TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), por exemplo, fazendo com que os talheres fiquem organizados por tamanhos, a roupa arrumada por cores, as almofadas colocadas na ordem devida, os vasos separados milimétricamente, os documentos arquivados por ordem alfabética até ao último papel, todos os dias, vezes sem conta, apenas porque nos recusamos a aceitar que as circunstâncias fugiram do nosso controlo, ou seja, se o armário caiu e ficou tudo desarrumado, estabelece-se a ordem das coisas imutáveis, inertes e possíveis.
A depressão e a ansiedade colam-se a nós como uma segunda pele obrigando-nos a procurar o fácil oásis das medicações miraculosas.


Em segundos passamos a questionar a nossa capacidade de recomeçar, deitando fora o que não presta, o peso-morto, e organizando com sincera aceitação o conteúdo de cada caixa, prometendo a nós próprios manter essa organização. Não só manter como procurar, rever, arejar, estimar e, acima de tudo, saber viver com cada uma delas.

E é precisamente nesta fase que precisamos do nosso psiquiatra para que nos ajude a olhar a nossa carga com um olhar demarcado de emoções porque só assim conseguiremos ser honestos na sua arrumação.

Logicamente, o avançar da idade permite-nos alcançar uma serenidade outrora impossível e, naturalmente, somos empurrados para um difícil e doloroso processo de reconciliação connosco próprios. Este processo de auto-conhecimento e, posteriormente, enamoramento de nós pode ser feito a sós, com um grau de dificuldade elevado ou pode ser feito com o auxílio de um bom psiquiatra e umas boas sessões de psicoterapia, medicação ajustada ou terapias alternativas ou termas ou retiro espiritual, vale tudo desde consigamos alcançar o nosso objectivo.

Tic-tac. tic-tac, o relógio da vida não pára. Façamos de hoje o primeiro e melhor dia das nossas vidas, desta vez, recomeçando sem peso-morto. A nossa felicidade mora em nós e está à espera de ser libertada há tempo demais.

Obrigada, Dr. João e Dra. Isabel









segunda-feira, 23 de maio de 2016

BEATRIZ E AS BARRIGAS DE ALUGUER



"MÃE, mesmo em maiúsculas, palavra tão pequena para um significado tão grande. És a pessoa mais corajosa que eu conheço! Ultrapassaste e ultrapassas um monte de obstáculos, tudo sozinha, nunca deixando de ser a melhor mãe que alguém poderia ter.
A vida não tem sido a melhor para ti, no entanto, é raro o dia em que demonstras algum tipo de fraqueza ou tristeza.
És forte, determinada, optimista, esforçada, inteligente, trabalhadora, culta, protectora e tens um coração que vai daqui até à lua!
Gostava muito de poder tirar de ti tudo o que te provoca sofrimento, preferia mil vezes que fosse eu a passar por isso e peço desculpa se, muitas vezes, não sou a filha que mereces.
Só queria poder tornar-te eterna!

Sempre cuidaste de mim e, quando precisares, vou cuidar de ti.

És a minha Nº1, a minha heroína. E eu nunca vou deixar-te sozinha.

AMO-TE, MELHOR MÃE DO UNIVERSO!" 

Beatriz 
(carta escrita à mão, em papel, sem tecnologias envolvidas, entregue no Dia da Mãe)

É desnecessário dizer o quanto me encheu o coração ler esta carta que juntei a muitas que os meus filhos me foram escrevendo pela vida fora.

No entanto, não consegui deixar de reparar que o amor deles por mim (e o meu por eles) floresce a cada dia que passamos juntos e assim tem sido ao longo destes 20 e 23 anos das suas vidas. Curiosamente, em nenhuma destas cartas foi referido o tempo da gestação ou do parto, pois essa é uma memória que eles não têm.
E vem-me à ideia a história que eu lhes contava sobre o seu nascimento (até muito tarde, diga-se de passagem)... nessa história, eu e o pai deles íamos ao céu falar com Deus para escolher os nossos filhos. O anjo Gabriel aparecia com um grosso livro cheio de fotografias de bebés e nós escolhemos o Tiago primeiro e a Beatriz depois mas deixei sempre claro que eram ambos edições limitadas e exclusivas, escolhidas depois de aturada reflexão e demais deliciosos pormenores que se foram esbatendo no tempo. 

E se assim fosse, tê-los-ia amado menos? 

Claro que não, o amor chega depois, todos os dias da nossa vida.

E, rapidamente, foge-me o pensamento para um dos temas da agenda do nosso executivo governamental, a legislação/ legalização das "barrigas de aluguer".


Eu sei que fui abençoada com um sistema reprodutor saudável que me permitiu levar duas gravidezes a termo com os respectivos partos por via natural.


Também sei que a gravidez é uma fase da nossa vida em que tudo acontece literalmente à volta do nosso umbigo, por dentro e por fora... é inesquecível a primeira vez que ouvimos o coração do nosso bebé a bater... é inesquecível a primeira vez que sentimos os seus movimentos dentro do nosso ventre. 

É, inegavelmente, um período sagrado durante o qual o nosso corpo se transforma num templo de amor e de expectativas. 
Um verdadeiro milagre apenas concedido às mulheres, actualmente, com maior ou menor intervenção masculina.
Cedo ou tarde, a maioria das mulheres escuta com atenção o bater do seu relógio biológico e a maternidade torna-se um sonho recorrente a tornar realidade tão cedo quanto possível.

Para algumas de nós, contudo, tal realidade rapidamente se transforma em pesadelo, sendo inevitável a aceitação ou rejeição da ideia de que não poderemos concretizar esse sonho com base nas mais variadas explicações clínicas. Chegadas a este ponto e exploradas todas as técnicas de fertilização já ao dispor, resta a resignação ou a adopção. 


E é precisamente aqui que surge a questão de alugar uma barriga para transportar o óvulo da futura mãe fertilizado com o espermatozóide do futuro pai durante os mágicos 9 meses mas, por favor, não tenhamos ilusões... é realmente maravilhosa a gravidez quando esta acontece no nosso próprio ventre... as alterações hormonais, o crescimento do peito, o aumento gradual da barriga, o sono, os desejos, os enjôos, só fazem sentido se os sentirmos. 
Na minha cabeça, esta ideia faz tanto sentido como pedir à minha irmã para comer uma barra de chocolate por mim porque eu sou alérgica!?!


Concebo que cada mulher seja livre para fazer o que desejar com o seu próprio corpo mas sem perder de vista a ideia de que essa liberdade tem como limite a identidade dos nossos filhos. Será que é mesmo necessário lembrar que, após um compromisso assumido com a maternidade/ paternidade, não nos é permitido tratar os nossos filhos doutra forma que não seja com o respeito que devemos a qualquer outro ser humano? São nossos filhos, não são o nosso prolongamento! E nada como a sábia definição de Saramago do que é um filho: 


“Filho é um ser que nos foi emprestado para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isso mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é expor-se a todo o tipo de dor, principalmente o da incerteza de agir correctamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo.”

José  Saramago
 Independentemente de todas as questões morais associadas a este tema e que são muitas, o facto de qualquer mulher poder alegar "afecto" mas receber, indevida e ilegalmente, contrapartidas financeiras para o fazer (dando origem a mais uma economia de mercado paralelo) vai transformar a maternidade num produto cuja aquisição dependerá do estatuto económico ou do poder de compra/ aluguer de cada um, quiçá, com direito a benefícios fiscais. 
Por outro lado, estando o nosso país a enfrentar uma situação de grave carência económica (a necessidade aguça o "mau" engenho de cada um), não duvido nem por um segundo, que rapidamente se transformaria a maternidade num florescente nicho de mercado, com lojas e sucursais oferecendo barrigas escolhidas a dedo, com direito a promoções, saldos e cupões de desconto!
Perdoem-me a ironia mas é tão fácil prever uma situação destas. Afinal, não andam os valores morais pelas ruas da amargura?

Voltando à Beatriz, apraz-me dizer que poderiam apresentar-me todas as provas inequívocas de que os meus filhos teriam sido fruto de um erro hospitalar, tendo sido trocados à nascença, que eu jamais trocaria um segundo destes anos passados com eles, por um filho biológico. Pasmem mas a gravidez representa uma parte ínfima no processo de maternidade!

Ser mãe é muito mais, ser mãe é criar, guiar, cuidar, estimar, consolar, educar, transmitindo-lhes os nossos melhores valores, recebendo deles as provas inequívocas do seu amor.
Parir é biológico, é animal e qualquer uma, boa ou má mãe, consegue fazê-lo, infelizmente, em certos casos. Para se ser mãe é que é preciso ter muita competência. E, se tiver competência de mãe, vai saber amar qualquer criança que entre na sua vida com o nome de "Filho". Se tiver competência de mãe, não vai querer que o seu bebé seja gerado por empréstimo numa estranha e confusa relação a três.
São tempos de grandes mudanças, franca evolução e devemos manter-nos abertos às novidades mas eu aposto na razoabilidade e no bom senso. Eu aposto no velho amor incondicional!




sábado, 21 de maio de 2016

ENAMORADA DE MIM!

No seguimento dos episódios anteriores da novela do meu descasamento, ocorreu-me hoje o seguinte:

Houvesse tal opção no Facebook e eu alegremente publicaria que estou "numa relação comigo mesma". Ao contrário do que possam pensar, este amor sempre foi por mim contrariado, cheio de altos e baixos, infelizmente, mais baixos do que altos.

Tenho-me acompanhado e sei que mal dou por mim, não me dando grande importância. Tudo o que digo ou faço afigura-se-me insuficiente ou medíocre, criando em mim grandes tormentas internas. No entanto, tenho procurado mais a minha companhia e tento conhecer-me o melhor possível, até porque desejo encontrar desesperadamente uma explicação para tudo aquilo que me destruiu ou não, principalmente, as escolhas, na sua maioria, más.

A partir de uma certa data, ainda por determinar, chamei para mim a responsabilidade de fazer os outros felizes, a responsabilidade de proteger, de amar incondicionalmente, de espalhar sem grandes critérios a minha enorme generosidade, esquecendo o mais importante de tudo e que, para mim, nunca passou de um chavão, cliché ou parte de um já muito ouvido discurso motivacional que é o facto de "nunca colocarmos na mão de terceiros a nossa felicidade".

Posto isto, acabei por me casar, divorciar-me, assumir uma união de facto, separar-me e casar-me outra vez (desta, era para sempre), estando a aguardar o divórcio depois de uma catástrofe emocional avassaladora.
Mas, há sempre um mas na vida, aquilo que parecia o fim, afinal transformou-se em recomeço. E como? - perguntam-me agora.

Imagine-se o seu pior inimigo...
Imagine-se tão inimigo que nem se deixa espaço para respirar...
Imagine-se tão inimigo que os seus ombros desaprendem a descontrair...
Imagine-se com ataques de pânico e ansiedade paralisantes...
Imagine-se em constante luta pelo controle da sua vida e dos que ama...
Imagine-se atingir os 50 anos e não ter a mais pequena ideia de como lidar consigo próprio, com as suas desconhecidas e recentes fragilidades, com uma cruel sensação de impotência...

Isto foi o que fiz a mim própria, anos a fio, com um sorriso bem afivelado na cara, a mesma máscara para todo o sofrimento, a utilizar a meu bel-prazer e nas mais variadas ocasiões...
Telemóvel transformado em prolongamento do braço e da alma, não fosse "o menino ter outra crise de epilepsia", ao longo de 23 anos, numa média de 1 ou 2 por semana, alerta silencioso e constante, dia e noite, ano após ano.
E a mamã e a irmã e o irmão (para sempre perdido para o álcool) e o pai e a família e os amigos e os amantes e os namorados. Quem julguei eu que era? Que soberba foi esta de achar que teria que representar Deus? De achar que o mundo iria ruir no dia em que eu não me apresentasse ao "trabalho" de me dar a quem me rodeava?

Acrescentem a esta hercúlea tarefa, o dia a dia de qualquer mulher que toma nas suas mãos a responsabilidade de trabalhar, ganhar dinheiro (pouco e muito), criar filhos, curar doenças, tratar da casa, ser enfermeira, gestora, educadora, advogada, confidente, esposa dedicada, amante competente e mais, muito mais... desentupi canos, fiz instalações eléctricas, usei o berbequim como se de um bastidor de bordados se tratasse, pintora de paredes, costureira, condutora exímia de carros, carrinhas, furgões e camiões. Não havia montanha que não subisse de bom grado e a minha arrogância ia tão longe que dizia com muito orgulho: "Não há nada que não faça e, quanto mais difícil for a tarefa, mais empenho lhe dedico". Rapidamente me viciei em adrenalina, remédio mágico para quem se recusa a ouvir a si próprio.



De repente, começo a falhar, física e psicologicamente, o corpo dá sinais inequívocos de exaustão, transformada em doença auto-imune que mais não é do que o organismo a iniciar um ataque, mais ou menos, brutal contra si mesmo. E não foi isso que eu fiz sempre? A única diferença é a inversão da agressão: dantes agredia-me de fora para dentro executando ordens minhas, agora, é de dentro para fora e sem a minha intervenção.

O que me resta? A minha clarividência, a minha inteligência e a minha aceitação. Afinal, sempre terei que ir ao fundo de mim própria, aos esconderijos secretos onde fui acumulando as mágoas num gigantesco arquivo morto e, como se de um computador se tratasse, optimizar o meu desempenho através da eliminação de programas, pastas e ficheiros não utilizados há tempo demais.

Gostar de mim é a palavra-chave, aceitar-me, aceitar o que fiz e o que deixei fazer... abraçar o meu passado para viver em paz o presente e ganhar esperança no futuro. A fórmula parece simples, assim eu consiga pô-la em prática.
Fundamental neste processo, foi esta derradeira estocada do homem que pensei meu marido. A estupefacção, a decepção e o choque, fizeram com que se tornasse muito agradável este contacto comigo própria e entendo ser uma relação para manter a longo termo.
Sou uma pessoa agradável, bem educada, com formação, inteligente, simpática e charmosa (isto obedece a mentalização para me habituar a ser cortês comigo própria - não é presunção, juro!)
O aspecto exterior ainda mantém algum encanto, com a vantagem de aceitar incondicionalmente o passar dos anos e, por isso, julgo estarem reunidas as condições para dar início a esta relação comigo própria!





E, como não poderia faltar um dos meus comentários jocosos, imagino que estejam a perguntar-se:
"Está tudo muito bem, um discurso muito bem elaborado, cheio de boas intenções mas o sexo, que é bom, como é?"
E eu respondo de forma brilhante e iluminada, dando origem a um sentido adágio popular:

Mais vale um amigo a pilhas do que um inimigo a pila! (pardon my french)

domingo, 17 de abril de 2016

CIDADÃOS, CIDADÃS, CIDADINHOS E CIDADOSOS

Felizmente, encontro-me no patamar dos demarcados de qualquer facção partidária ficando, por isso, livre para emitir a mais isenta das opiniões. No entanto, não posso negar um pendor esquerdista que me restou da minha adolescência pós-abrilista e que se manteve de forma mais ou menos consistente ao longo dos tempos.
Não posso negar a admiração que tive por alguns dos dirigentes do Bloco de Esquerda.
Não posso negar, também, a minha decepção com o actual executivo governamental no qual depositei algumas esperanças, um pouco quixotescas, confesso.

Mas foi com estupefacção que li e reli, pensando tratar-se de alguma brincadeira, a manifesta intenção dos bloquistas no sentido de alterarem o Cartão de Cidadão para Cartão de Cidadania por considerarem tratar-se de descriminação e desrespeito para com o sexo feminino. A exemplo do que anteriormente aqui opinei sobre a questão "fundamental" do piropo, volto à carga para me indignar com a excessiva preocupação, por parte do BE, com os direitos fundamentais das mulheres, cidadãs de pleno direito em tudo iguais aos restantes cidadãos.


Ora, eu do sexo feminino me confesso, com orientação heterossexual, não restando quaisquer dúvidas àcerca da minha feminilidade e do modo como tenho lidado com essa condição ao longo dos anos. Devo dizer que estas atitudes do BE me fazem sentir "diferente", ou seja, o excesso de preocupação com pormenores absolutamente ridículos colocam-me no lugar do único aluno com cadeira de rodas a quem os colegas perguntam a cada minuto se está bem, se precisa de algo e demonstram a sua solidariedade para com a inclusão da pessoa diferente, lembrando-lhe a toda a hora as suas dificuldades e tendo ainda a subtileza de usarem camisolas com letras garrafais dizendo:"Todos diferentes, todos iguais!". Por favor, já não há paciência!

Este é o exemplo mais claro da não-questão, de um preciosismo desnecessário e de uma péssima aplicação do erário público no pagamento de salários a estes funcionários do Estado.
Agostinho da Silva defendia que só fazia sentido a democracia se o povo fosse culto e, acima de tudo, se não tivesse fome. Com fome não há cultura, sem cultura não existe democracia.

Desde há tempo demais que povo português assiste à derrocada diária da sua economia, as famílias cada vez mais se desagregam e vivem, mês após mês, uma lenta agonia de contar os dias até ao próximo final do mês. A Segurança Social colapsou e os que mais precisam não conseguem ultrapassar os infindáveis corredores da burocracia, acabando por desistir. A máquina fiscal é um monstro que se alimenta da desgraça alheia. A juventude está ao "Deus dará (ou não)", os idosos cada vez mais entregues a si próprios ou a pior, a classe média desapareceu, os bancos desalojam famílias a um ritmo nunca visto. O clima que se vive é de insegurança e incerteza a todos os níveis. Agora, perguntem-me se eu me importo que o meu Cartão de Cidadão seja sexista... muito mais grave é que o meu cartão não tenha inscrito: "Cartão do Quase Cidadão" pois os meus direitos e dos demais são atropelados a cada dia que passa.

Vou fazer uma analogia com a pesca de arrasto, ou seja, os sucessivos governos democráticos (com especial atenção para o período Socrático) têm sido arrastões que pescam todo o tipo de peixe, desde o tamboril à petinga.
Os únicos que se salvam são os tubarões que atacam o próprio arrastão e conseguem sempre fugir, acabando nas suas casas com uma linda pulseira electrónica e aguardando que lhes seja servida ao jantar uma magnífica caldeirada com as douradas, os robalos, os carapaus e demais peixe-miúdo que não conseguiram escapar às redes de arrasto.

Com toda a humildade possível, deixo algumas sugestões ao BE para utilizar na próxima vez que se lembrar de defender questões de fundo como a do piropo ou do género inscrito na nossa identificação:


- Acabar com a imunidade parlamentar;
- Combater a corrupção com penas exemplares;
- Acabar de vez com os resgates dos Bancos;
- Baixar drasticamente os salários e regalias do executivo governamental e das empresas públicas;
- Controlar os abusos existentes na máquina fiscal;
- De uma vez por todas, criar uma política de protecção social verdadeiramente justa.



É que eu ainda acredito que o exemplo deve vir de cima e a esquerda tem agora uma oportunidade de ouro para demonstrar que não é só mais um governo formado por "gentinha" preocupada em defender os próprios interesses, em manter os injustos e imerecidos benefícios à custa de um povo que começa a perder a esperança de vir a viver dias melhores.

Ponham o nome que quiserem no meu Cartão de Cidadão (não me importo) mas façam-me sentir um cidadão!









segunda-feira, 4 de abril de 2016

ODE AO SEXO MASCULINO - SEM CENSURA!

Estive a rever as minhas publicações e encontrei algum desfasamento entre os elogios ao sexo feminino em detrimento do masculino e considerei, repito, considerei repor a verdade dos factos.

Os homens... Os homens...
Depois de muito tempo e fazendo uma rápida inspecção aos espécimes que entraram na minha vida não me ocorre grande coisa, ou seja, o que me ocorre pouco ou nada tem de elogioso, senão vejamos:

Começo por me lembrar do meu pai, uma "figura", o infiel por excelência, sempre com a mentira na ponta da língua, vigaristazinho de canto de esquina, pronto para atacar o ou a próximo/a incauto/a, incluindo os próprios filhos. Posso reservar um canto deste meu espaço para o meu pai mas mais tarde e depois de mais umas valentes horas de psicoterapia.

O meu irmão mais velho perdeu-se nos vapores do álcool ainda muito jovem e hoje não sei quem ele é ou como é. Reservo um espaço também para ele e para o alcoolismo e também para mais tarde.

O meu primeiro marido, pai dos meus adorados filhos, líder incontestável das maiores ilações da minha vida, sendo que a principal foi a forma como não devemos tratar o nosso cônjuge:

- Não se deve roubar a identidade à pessoa de quem gostamos;
- Não se deve forçar a nossa companheira a fazer ou dizer o que não quer;
- Não devemos dizer, vezes sem conta, anos a fio: "Cala-te que não sabes o que dizes!", "Sais mesmo à tua família!", "Se eu não ficasse contigo, ninguém te queria!", "Vai-te vestir em condições, pareces uma ordinária!", "Não me envergonhes junto da minha família!" e muito mais;
- Não se deve erguer a mão contra os mais fracos, seja a mulher, sejam os filhos;
- Não se deve insultar ou maltratar a pessoa que dizemos amar.

Assim, ao fim de dezoito anos penosos e muito cheios de hipocrisia e insegurança, lá consegui fugir deste casamento, literalmente. Não tecerei mais considerações sobre ele (daria uma boa novela venezuelana) porque é pai dos meus filhos e eu amo-os e respeito-os ao ponto de evitar tecer comentários sobre o progenitor.

Com o segundo, vivi em união de facto, durante 3 anos que preferia apagar do meu passado mas como ele morreu, respeitarei a sua memória e a sua família, escusando-me a falar do que quer que seja. Foi mau demais... e chega!



Com o terceiro e último, espero, vivi a história de amor mais bonita da minha vida!!! Nos primeiros meses, note-se!
Foi o homem que mais amei e em quem depositei a minha última réstia de admiração e fé no sexo masculino.
E foi mesmo ele que me roubou tudo, tudo até a minha saúde. Sugou toda a minha energia, todo o meu amor, toda a minha ingénua credulidade. Literalmente, andei com ele ao colo durante os 8 anos que a nossa relação durou.
O meu amor resistiu a alcoolismo, desemprego, empregos precários, depressões, internamentos, desintoxicações, sanções disciplinares no trabalho, traições várias, violência, tudo, resistiu a tudo sempre em silêncio. Levei-o ao colo quando foi internado, mais do que uma vez, levei-o ao colo quando foi vergonhosamente despedido, levei-o ao colo para junto do filho, fiz tudo o que podia para dar certo... Até o emprego que hoje tem, a mim o deve!
Mas cometi um erro grave: fiquei doente, mesmo doente!
Já não podia fazer as mesmas coisas, já não limpava as porcarias que ele sempre deixava para trás, já não podia tolerar o vício dele, o cheiro de vinho barato começou a enojar-me... mas continuei de pé, a demonstrar-lhe um amor incondicional que ele nunca saberá o que é, continuei a dar-lhe os mimos e a aturar-lhe as birras mas já não era suficiente e o que fez este magnífico exemplar do sexo oposto?
Fugiu, tal como nas histórias, "saiu para comprar tabaco" e nunca mais voltou nem para falar comigo nem para vir buscar as roupas nem para dar uma desculpa esfarrapada qualquer.
Fugiu qual rato a abandonar o navio porque o Comandante já começa a fraquejar. É mesmo isso que ele é, um mísero e cobarde rato de navios de luxo, oportunista e interesseiro, manipulador e mentiroso.
Que tipo de homem vira costas a uma família que o acarinhou e ajudou durante 8 anos?
Que tipo de homem vira costas à sua mulher na única, repito, única altura da vida em que era ela a precisar dele?
Que tipo de homem vira costas e deixa uma mulher mergulhada num mar de revolto de emoções viradas ao contrário, saúde a cada dia mais precária e em autêntico, total e  premeditado desamparo económico?

Posto isto, tudo o que possa dizer sobre o sexo masculino é, realmente, muito pouco elogioso. Houve mais uns casos, aqui e acolá, sem consequências e sem comportamentos relevantes, nunca o suficiente para eu reforçar alguma admiração pelo sexo oposto que não a da própria anatomia, uma vez que a minha orientação é essa.
Talvez haja homens diferentes, talvez haja homens bons, talvez eu nunca lhes tenha dado particular atenção... deve haver!
Não fiquem zangados com isto, eu é que tenho todo o direito de estar revoltada, tenho todo o direito de detestar todos os homens e nem estou zangada, estou (em bom e claro jargão portuense) fodida e mal paga!
Nunca as palavras da minha tia, solteirona indefectível, fizeram tanto sentido como agora: "Homens? Só os descartáveis... para usar e deitar fora!"

Não sou amarga, apenas estou zangada e a minha idade, a minha saúde ou falta dela, fazem com que eu diga o que me vai na cabeça, finalmente!
Deve haver homens muito bons, casamentos muito consistentes mas, neste momento, reservo-me o direito de não acreditar em homem nenhum nem em casamentos iluminados.




Apenas reforcei a admiração que tenho pelas mulheres e por mim, em particular!
Conheço muito pouca gente capaz de suportar estas provações sem desistir, sem fugir, sem perder o caminho...
Eu continuo de pé, com a cabeça erguida e pronta para tudo mais que a vida me reservar! Acima de tudo, tenho os meus filhos que continuam a ser o meu chão quando já não quero caminhar e são o meu farol quando me perco!


Homens... continuo a observar os que valem a pena ser observados e apenas do ponto de vista artístico e antropológico! (doente mas não cega!).
E pronto, tenho dito (vou embora com o meu enorme par de balls)!



sexta-feira, 1 de abril de 2016

A NOBRE ARTE DE SER MULHER

Perdoem-me os elementos do sexo oposto mas sinto-me compelida a confessar a minha incondicional admiração pelas mulheres, pela sua essência, por todas e cada uma delas.
São seres absolutamente fascinantes, encerram em si diversas gravidezes, partos e abortos... de filhos, de homens, de segredos!




A mulher, cantada por tantos. A mulher, amada por tantos. A mulher que tudo pode. A mulher mãe, avó, amante, criada, bem tratada, mal tratada, com cicatrizes em todos os seus caminhos, de todos os tamanhos e feitios, de todos os amores e desamores.

A mulher, esse ser que não dorme,  que não adoece,  que luta,  que dá luta, que acorda cedo sem acordar, com passos mecânicos qual máquina programada para servir, amando.

A mulher que não chora, que tudo pode, que nada pede, vivendo através das vidas dos que ama. Rindo se eles riem, consolando se eles choram.
A que canta com voz embargada pela dor, nó na garganta abafado vezes sem conta, o medo escondido pela doçura da voz.

A mulher família, o amor mais do que tudo, a mãe dos filhos que pariu, que transportou e alimentou com o seu sangue.

Mulher-mãe... como não glorificar o corpo que acolhe no seu seio o futuro da humanidade que depois a abandona com promessas de grandes feitos e conquistas, membro amputado num só momento, a parte melhor de si própria, espelho com reflexo brilhante, amor que não tem fim...





A mulher, a amante sagaz, tantas vezes fugidia. A mulher impossível de adivinhar... que prazer? Pernas que se abrem, qual lareira convidativa, fogo que arde e se vê, aconchego do seu homem ou dos seus homens...




A mulher que desafia o tempo, as estações, dissimula rugas, as más e as boas, cura doenças de si e dos outros qual maga poderosa, dona de poções e palavras mágicas.

A mulher submissa, cão fiel de quem a afaga. A mulher fogosa, impossível de dominar. A mulher onírica, senhora dos segredos nunca sussurrados. A mulher sofrida, dores reveladas no olhar.

A mulher bela ou menos bela, com voz de mar, passos de bailarina, seguindo pela vida como uma brisa de primavera, enfrentando o inverno de dias menos bons com o sorriso de lareira acesa. Como não morrer de paixão?

Nos seus braços cabem filhos, homens, família e amigos, para todos um aconchego, ainda que nada sobre para si.
No fim dos dias, no fim das horas, no ocaso do tempo, de pé permanece a mulher-vida, bem ou mal vivida, como uma antiga árvore, raízes regadas pelas lágrimas, folhas amarelecidas pelo outono das memórias. De pé, sempre de pé!



quinta-feira, 24 de março de 2016

CASADAS COM O INIMIGO

Existem máscaras que colamos a nós como uma primeira pele, é aquela que apresentamos no primeiro instante, a imagem que queremos transmitir. É aquela que nos permite sorrir quando a nossa vida está um caos, é a que nos permite enganar quando estamos a mentir a alguém, é a que utilizamos com mais ou menos escrúpulos, consoante a ocasião ou o tipo de pessoas que somos ou com quem estamos a lidar.
Há as inócuas ou as que só fazem mal a nós próprias mas há as outras máscaras, as que nos enganam, mentem, manipulam e traem, as que são utilizadas por e para o mal. Evidentemente que, se conseguíssemos distanciar-nos emocionalmente, com facilidade daríamos conta dos sinais de alarme.

Esta máscara em particular tem o nome de psicopatia, uma patologia que atinge cerca de 4% da população mundial, sendo que 3% pertencem ao sexo masculino e 1% ao sexo feminino. E daí eu dirigir este texto às mulheres.
Na sua grande maioria não são pessoas particularmente perigosas no sentido de colocarem em risco a vida de quem os rodeia, a exemplo do famoso Hannibal Lecter.


Os psicopatas primários, comunitários ou de colarinho branco circulam livremente entre nós, alcançando, com relativa facilidade, postos de elevada responsabilidade nos seus empregos. A título de curiosidade, um estudo revelou que cerca de 90% dos CEO das empresas revelam traços de psicopatia.

O psicopata não está. O PSICOPATA É.


São pessoas que vivem ao nosso lado e que se destacam pela sua enorme capacidade de atrair as atenções sobre si. São charmosos, simpáticos, inteligentes, bem-humorados. São alvo de avassaladoras paixões, cortejam até à exaustão, qual leão a cansar a sua presa antes desta lhe servir de alimento.

Há numerosos traços comuns e em comum nos psicopatas com quem lidamos no dia a dia e gostaria de vos apresentar um humilde e resumido retrato destes homens que infernizam a vida da mulher que tem o azar de se cruzar no seu caminho.

Infelizmente, tenho no meu currículo pessoal um número bastante significativo destes espécimes, o que me leva a pensar que, ou há um público-alvo para estes predadores, do qual eu tristemente faço parte, ou nasci sob uma estrela sem luz que não me permitiu reconhecer os sinais, apesar da minha lúcida inteligência.

No entanto, se tivermos sorte, podemos passar pela vida sem chegarmos a ser vítimas da sua perversidade.
Estes psicopatas de que falo não matam no sentido literal da palavra, vão matando através da violência verbal, da violência física, da violência psicológica até desprover as suas vitimas da própria alma, levando-as a acreditar que merecem tal tratamento e, pior, que são culpadas de tudo.

Veja se conhece alguém assim:
  • Possui o dom da palavra, é simpático e conquistador no primeiro impacto, com homens e com mulheres;
  • Tem uma auto-estima exagerada e julga-se melhor do que os outros;
  • É um mentirosos patológico. Usa as suas mentiras em benefício próprio, ou seja, para melhorar a sua imagem ou para justificar a sua conduta;
  • Tem um comportamento manipulador e, na maioria das vezes, é suficientemente inteligente para o fazer sem que o outro se aperceba;
  • Não sente remorso ou culpa e nunca têm dúvidas;
  • Quanto a expressar sentimentos, é frio e calculista, desprovido de emoções mas consegue simulá-las, se tal comportamento lhe trouxer algum proveito;
  • É, também, desprovido de empatia, indiferente ao sofrimento alheio e, se provocado, manifesta crueldade;
  • É incapaz de assumir as responsabilidades dos seus actos e recusa-se a aceitar os seus erros porque a culpa é sempre dos outros;
  • Aborrece-se facilmente, por isso, necessita de estímulo constante;
  • Normalmente, adopta um tipo de vida parasitário, suga a energia, o amor, o dinheiro das pessoas que os rodeiam;
  • Age descontroladamente e por impulso;
  • Não tem metas a longo prazo e vive como nómada, sem criar raízes e sem um rumo certo;
  • Tenta separar a sua presa da família de origem, dos seus amigos ou empregos para que melhor possa exercer o seu controlo, sem testemunhas ou impedimentos;
  • Toma atitudes impulsivas de forma recorrente e premeditada. Ao mesmo tempo, não compreende a consequência das suas acções, não as assumindo nunca;
  • É irresponsável e tem uma faceta marcadamente anti-social;
  • Tem uma vida sexual promiscua, pautada por vários relacionamentos breves e em simultâneo;
  • Acumula casamentos de curta duração pois não se compromete por muito tempo, apenas permanecendo comprometido durante o tempo que dura o encantamento. Assim que o cônjuge passa a conhecê-lo bem, foge em busca de uma nova presa.
Durante anos dormi com um inimigo ao meu lado.
Virei a cara para o lado para não ver as mentiras, fechei os olhos com força para não ver os sinais e pensava:"Isto é a minha imaginação, isto não está a acontecer!".
E chegava a dor da culpa, uma dor fininha que se entranhava até aos ossos e comprava o meu silêncio.
Quando pensei que ele já não podia fazer pior, ele superou-se e conseguiu voltar a surpreender-me, da pior forma possível, claro.

Como disse atrás, há mulheres, como eu, com predisposição para este tipo de homens e o preço a pagar por estas escolhas é alto demais e não vale a pena.
Se está numa relação deste tipo, presa por sentimentos, por filhos, por estabilidade financeira, por medo, seja lá a motivação que for, só posso dar-lhe um conselho:

Fuja, saia, liberte-se e não volte a olhar para trás! 

Estes homens não vão mudar nunca, eles não amam ninguém. Pior, se a virem chorar e a contorcer-se de tristeza e culpa, estará a facultar-lhes um mega-orgasmo porque se há coisa que lhes dá prazer é o sofrimento alheio, a humilhação e o medo que o seu comportamento provoca.


Não tente enfrentá-lo ou entrar no seu jogo! Rapidamente se verá rodeada de uma perversa teia de mentiras, sadismo, jogos e esquemas que dificilmente ou nunca terá capacidade de ultrapassar.


Dói tudo, eu sei, dói a dor de ser enganada, dói a dor de estar destruída, dói a dor de se sentir incapaz, dói a dor da solidão, dói a dor da vergonha e dói a dor de todas as dores acumuladas mas, uma vez livre, realmente livre, vai começar a respirar e vai aprender a gostar de si.
Dificilmente o conseguirá sozinha porque um relacionamento deste tipo é altamente destrutivo, é um ataque mortífero à nossa auto-estima mas peça ajuda porque ainda é bom respirar.
Eu sei bem do que falo e é maravilhoso olhar para mim com algum respeito e ter a noção de que ainda há muito trabalho a fazer mas que mereço ter esse trabalho comigo própria.

Quanto a ele... o melhor é deixá-lo "ir morrer longe"!





sábado, 16 de janeiro de 2016

MAMAS, AMAMENTAÇÃO E DEMAIS CONSIDERAÇÕES!

De tempos a tempos, surgem novas tendências que, fruto da utilização democrática das novas tecnologias, se espalham tão rapidamente como fogo num palheiro.Todos opinam, criticam, as opiniões divergem e as discussões ficam acaloradas.

Agora, surgiu esta discórdia em torno da amamentação em público. Se bem me lembro, ainda há pouco tempo se faziam campanhas de incentivo à amamentação. Agora, apela-se à segregação mamária.
Ora bem, o que se me apraz dizer, do alto dos meus 3 anos de amamentação (a dividir equitativamente pelas minhas duas crias), é que - espanto!!! - a amamentação é um acto natural e muito saudável, tanto para a mãe quanto para o bebé.

Eu pertenço à velha escola da "fraldinha por cima do ombro" a salvaguardar as minhas mamas de olhares indesejáveis mas eu sou eu e senti-me mais confortável reduzindo a exibição total do meu corpo à época balnear ou ao abrigo do meu lar.
Não penso que todas as mulheres devam ser ostensivas de cada vez que amamentam os seus filhos em público e, se algumas o fazem, penso que são diminutas e tristes excepções.

Ao longo dos meus 3 anos de amamentação, fui surpreendida pela fome voraz dos meus infantes manifestada através de agudos e desesperados choros. Desafio alguém que transporte o alimento das suas crias em si própria a aguardar calmamente até chegar à casa de banho mais próxima, sentar-se num tampo de sanita de limpeza duvidosa, sujeita a cheiros altamente questionáveis para tentar equilibrar um bebé em pranto, um saco de fraldas, uma carteira e ainda desapertar a roupa sem saber onde pousar a sua mercadoria... afigura-se-me uma tarefa hercúlea e de condições higiénicas muito precárias. No meu caso, houve lugar a aleitamento em hipermercados, na rua, na praia, em esplanadas, no local de trabalho, em casa de amigos ou familiares, etc.




Hipocrisia é a palavra que me ocorre quando somos bombardeados todos os dias com decotes generosos quer nas redes sociais, quer em filmes, novelas, reality shows e até em insuspeitos programas televisivos familiares.

O bom gosto, a elegância e o bom senso devem presidir a esta decisão que pertence à mulher, exclusivamente. Há truques e maneiras de se agir por forma a não chocar as mentes mais puritanas: a velha fralda de pano, a procura de um local mais sossegado (para bem do bebé, essencialmente) e muita, muita descontração.

A amamentação, para quem não sabe, é um momento único e privilegiado de cumplicidade entre mãe e filho. Basta observar com atenção o olhar que o bebé dirige à sua progenitora neste momento tão especial. Este olhar encerra o segredo da vida... para aquele bebé o ser que o está a alimentar é o seu mundo e é isso que sacraliza este acto. Se existe alguém que não consegue ver para além de umas mamas, ou é um cego emocional ou é alguém que não controla os seus impulsos.
Não são os olhos da mãe que estão errados, são os olhos de quem "olha"!



No entanto, esta questão cheira-me a "não questão", ou seja, enquanto o Brasil legisla a amamentação em público e Portugal legisla o piropo, assuntos mais importantes são escamoteados e, de questãozinha em questãozinha, o povo vai ficando inebriado pelos vapores de uma alegada democracia que lhe permite expressar a sua opinião... agora falta saber sobre o quê e para quê.

Acabo incentivando as mulheres à amamentação (não tem que doer, não estraga o peito), em casa ou em público, fazendo uso do bom senso e recato adequados à situação ou a nada disto se o bebé estiver mesmo com fome... num caso destes, uma fralda ou um casaco resolvem o assunto!

E, já agora, em relação aos decotes, usa quem pode! Há mulheres que exibem com orgulho e bom gosto o que a natureza lhes deu, outras há que deveriam ser proibidas de partilhar tais aberrações. Às mais jovens só tenho a dizer que preservem a sua imagem porque uma mulher não é um par de mamas e, se queremos que os homens mudem as suas atitudes trogloditas, temos que começar por lhes mostrar que somos e valemos muito mais do que o nosso corpo!


Desejo a todos um óptimo fim de semana!

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