domingo, 17 de abril de 2016

CIDADÃOS, CIDADÃS, CIDADINHOS E CIDADOSOS

Felizmente, encontro-me no patamar dos demarcados de qualquer facção partidária ficando, por isso, livre para emitir a mais isenta das opiniões. No entanto, não posso negar um pendor esquerdista que me restou da minha adolescência pós-abrilista e que se manteve de forma mais ou menos consistente ao longo dos tempos.
Não posso negar a admiração que tive por alguns dos dirigentes do Bloco de Esquerda.
Não posso negar, também, a minha decepção com o actual executivo governamental no qual depositei algumas esperanças, um pouco quixotescas, confesso.

Mas foi com estupefacção que li e reli, pensando tratar-se de alguma brincadeira, a manifesta intenção dos bloquistas no sentido de alterarem o Cartão de Cidadão para Cartão de Cidadania por considerarem tratar-se de descriminação e desrespeito para com o sexo feminino. A exemplo do que anteriormente aqui opinei sobre a questão "fundamental" do piropo, volto à carga para me indignar com a excessiva preocupação, por parte do BE, com os direitos fundamentais das mulheres, cidadãs de pleno direito em tudo iguais aos restantes cidadãos.


Ora, eu do sexo feminino me confesso, com orientação heterossexual, não restando quaisquer dúvidas àcerca da minha feminilidade e do modo como tenho lidado com essa condição ao longo dos anos. Devo dizer que estas atitudes do BE me fazem sentir "diferente", ou seja, o excesso de preocupação com pormenores absolutamente ridículos colocam-me no lugar do único aluno com cadeira de rodas a quem os colegas perguntam a cada minuto se está bem, se precisa de algo e demonstram a sua solidariedade para com a inclusão da pessoa diferente, lembrando-lhe a toda a hora as suas dificuldades e tendo ainda a subtileza de usarem camisolas com letras garrafais dizendo:"Todos diferentes, todos iguais!". Por favor, já não há paciência!

Este é o exemplo mais claro da não-questão, de um preciosismo desnecessário e de uma péssima aplicação do erário público no pagamento de salários a estes funcionários do Estado.
Agostinho da Silva defendia que só fazia sentido a democracia se o povo fosse culto e, acima de tudo, se não tivesse fome. Com fome não há cultura, sem cultura não existe democracia.

Desde há tempo demais que povo português assiste à derrocada diária da sua economia, as famílias cada vez mais se desagregam e vivem, mês após mês, uma lenta agonia de contar os dias até ao próximo final do mês. A Segurança Social colapsou e os que mais precisam não conseguem ultrapassar os infindáveis corredores da burocracia, acabando por desistir. A máquina fiscal é um monstro que se alimenta da desgraça alheia. A juventude está ao "Deus dará (ou não)", os idosos cada vez mais entregues a si próprios ou a pior, a classe média desapareceu, os bancos desalojam famílias a um ritmo nunca visto. O clima que se vive é de insegurança e incerteza a todos os níveis. Agora, perguntem-me se eu me importo que o meu Cartão de Cidadão seja sexista... muito mais grave é que o meu cartão não tenha inscrito: "Cartão do Quase Cidadão" pois os meus direitos e dos demais são atropelados a cada dia que passa.

Vou fazer uma analogia com a pesca de arrasto, ou seja, os sucessivos governos democráticos (com especial atenção para o período Socrático) têm sido arrastões que pescam todo o tipo de peixe, desde o tamboril à petinga.
Os únicos que se salvam são os tubarões que atacam o próprio arrastão e conseguem sempre fugir, acabando nas suas casas com uma linda pulseira electrónica e aguardando que lhes seja servida ao jantar uma magnífica caldeirada com as douradas, os robalos, os carapaus e demais peixe-miúdo que não conseguiram escapar às redes de arrasto.

Com toda a humildade possível, deixo algumas sugestões ao BE para utilizar na próxima vez que se lembrar de defender questões de fundo como a do piropo ou do género inscrito na nossa identificação:


- Acabar com a imunidade parlamentar;
- Combater a corrupção com penas exemplares;
- Acabar de vez com os resgates dos Bancos;
- Baixar drasticamente os salários e regalias do executivo governamental e das empresas públicas;
- Controlar os abusos existentes na máquina fiscal;
- De uma vez por todas, criar uma política de protecção social verdadeiramente justa.



É que eu ainda acredito que o exemplo deve vir de cima e a esquerda tem agora uma oportunidade de ouro para demonstrar que não é só mais um governo formado por "gentinha" preocupada em defender os próprios interesses, em manter os injustos e imerecidos benefícios à custa de um povo que começa a perder a esperança de vir a viver dias melhores.

Ponham o nome que quiserem no meu Cartão de Cidadão (não me importo) mas façam-me sentir um cidadão!









segunda-feira, 4 de abril de 2016

ODE AO SEXO MASCULINO - SEM CENSURA!

Estive a rever as minhas publicações e encontrei algum desfasamento entre os elogios ao sexo feminino em detrimento do masculino e considerei, repito, considerei repor a verdade dos factos.

Os homens... Os homens...
Depois de muito tempo e fazendo uma rápida inspecção aos espécimes que entraram na minha vida não me ocorre grande coisa, ou seja, o que me ocorre pouco ou nada tem de elogioso, senão vejamos:

Começo por me lembrar do meu pai, uma "figura", o infiel por excelência, sempre com a mentira na ponta da língua, vigaristazinho de canto de esquina, pronto para atacar o ou a próximo/a incauto/a, incluindo os próprios filhos. Posso reservar um canto deste meu espaço para o meu pai mas mais tarde e depois de mais umas valentes horas de psicoterapia.

O meu irmão mais velho perdeu-se nos vapores do álcool ainda muito jovem e hoje não sei quem ele é ou como é. Reservo um espaço também para ele e para o alcoolismo e também para mais tarde.

O meu primeiro marido, pai dos meus adorados filhos, líder incontestável das maiores ilações da minha vida, sendo que a principal foi a forma como não devemos tratar o nosso cônjuge:

- Não se deve roubar a identidade à pessoa de quem gostamos;
- Não se deve forçar a nossa companheira a fazer ou dizer o que não quer;
- Não devemos dizer, vezes sem conta, anos a fio: "Cala-te que não sabes o que dizes!", "Sais mesmo à tua família!", "Se eu não ficasse contigo, ninguém te queria!", "Vai-te vestir em condições, pareces uma ordinária!", "Não me envergonhes junto da minha família!" e muito mais;
- Não se deve erguer a mão contra os mais fracos, seja a mulher, sejam os filhos;
- Não se deve insultar ou maltratar a pessoa que dizemos amar.

Assim, ao fim de dezoito anos penosos e muito cheios de hipocrisia e insegurança, lá consegui fugir deste casamento, literalmente. Não tecerei mais considerações sobre ele (daria uma boa novela venezuelana) porque é pai dos meus filhos e eu amo-os e respeito-os ao ponto de evitar tecer comentários sobre o progenitor.

Com o segundo, vivi em união de facto, durante 3 anos que preferia apagar do meu passado mas como ele morreu, respeitarei a sua memória e a sua família, escusando-me a falar do que quer que seja. Foi mau demais... e chega!



Com o terceiro e último, espero, vivi a história de amor mais bonita da minha vida!!! Nos primeiros meses, note-se!
Foi o homem que mais amei e em quem depositei a minha última réstia de admiração e fé no sexo masculino.
E foi mesmo ele que me roubou tudo, tudo até a minha saúde. Sugou toda a minha energia, todo o meu amor, toda a minha ingénua credulidade. Literalmente, andei com ele ao colo durante os 8 anos que a nossa relação durou.
O meu amor resistiu a alcoolismo, desemprego, empregos precários, depressões, internamentos, desintoxicações, sanções disciplinares no trabalho, traições várias, violência, tudo, resistiu a tudo sempre em silêncio. Levei-o ao colo quando foi internado, mais do que uma vez, levei-o ao colo quando foi vergonhosamente despedido, levei-o ao colo para junto do filho, fiz tudo o que podia para dar certo... Até o emprego que hoje tem, a mim o deve!
Mas cometi um erro grave: fiquei doente, mesmo doente!
Já não podia fazer as mesmas coisas, já não limpava as porcarias que ele sempre deixava para trás, já não podia tolerar o vício dele, o cheiro de vinho barato começou a enojar-me... mas continuei de pé, a demonstrar-lhe um amor incondicional que ele nunca saberá o que é, continuei a dar-lhe os mimos e a aturar-lhe as birras mas já não era suficiente e o que fez este magnífico exemplar do sexo oposto?
Fugiu, tal como nas histórias, "saiu para comprar tabaco" e nunca mais voltou nem para falar comigo nem para vir buscar as roupas nem para dar uma desculpa esfarrapada qualquer.
Fugiu qual rato a abandonar o navio porque o Comandante já começa a fraquejar. É mesmo isso que ele é, um mísero e cobarde rato de navios de luxo, oportunista e interesseiro, manipulador e mentiroso.
Que tipo de homem vira costas a uma família que o acarinhou e ajudou durante 8 anos?
Que tipo de homem vira costas à sua mulher na única, repito, única altura da vida em que era ela a precisar dele?
Que tipo de homem vira costas e deixa uma mulher mergulhada num mar de revolto de emoções viradas ao contrário, saúde a cada dia mais precária e em autêntico, total e  premeditado desamparo económico?

Posto isto, tudo o que possa dizer sobre o sexo masculino é, realmente, muito pouco elogioso. Houve mais uns casos, aqui e acolá, sem consequências e sem comportamentos relevantes, nunca o suficiente para eu reforçar alguma admiração pelo sexo oposto que não a da própria anatomia, uma vez que a minha orientação é essa.
Talvez haja homens diferentes, talvez haja homens bons, talvez eu nunca lhes tenha dado particular atenção... deve haver!
Não fiquem zangados com isto, eu é que tenho todo o direito de estar revoltada, tenho todo o direito de detestar todos os homens e nem estou zangada, estou (em bom e claro jargão portuense) fodida e mal paga!
Nunca as palavras da minha tia, solteirona indefectível, fizeram tanto sentido como agora: "Homens? Só os descartáveis... para usar e deitar fora!"

Não sou amarga, apenas estou zangada e a minha idade, a minha saúde ou falta dela, fazem com que eu diga o que me vai na cabeça, finalmente!
Deve haver homens muito bons, casamentos muito consistentes mas, neste momento, reservo-me o direito de não acreditar em homem nenhum nem em casamentos iluminados.




Apenas reforcei a admiração que tenho pelas mulheres e por mim, em particular!
Conheço muito pouca gente capaz de suportar estas provações sem desistir, sem fugir, sem perder o caminho...
Eu continuo de pé, com a cabeça erguida e pronta para tudo mais que a vida me reservar! Acima de tudo, tenho os meus filhos que continuam a ser o meu chão quando já não quero caminhar e são o meu farol quando me perco!


Homens... continuo a observar os que valem a pena ser observados e apenas do ponto de vista artístico e antropológico! (doente mas não cega!).
E pronto, tenho dito (vou embora com o meu enorme par de balls)!



sexta-feira, 1 de abril de 2016

A NOBRE ARTE DE SER MULHER

Perdoem-me os elementos do sexo oposto mas sinto-me compelida a confessar a minha incondicional admiração pelas mulheres, pela sua essência, por todas e cada uma delas.
São seres absolutamente fascinantes, encerram em si diversas gravidezes, partos e abortos... de filhos, de homens, de segredos!




A mulher, cantada por tantos. A mulher, amada por tantos. A mulher que tudo pode. A mulher mãe, avó, amante, criada, bem tratada, mal tratada, com cicatrizes em todos os seus caminhos, de todos os tamanhos e feitios, de todos os amores e desamores.

A mulher, esse ser que não dorme,  que não adoece,  que luta,  que dá luta, que acorda cedo sem acordar, com passos mecânicos qual máquina programada para servir, amando.

A mulher que não chora, que tudo pode, que nada pede, vivendo através das vidas dos que ama. Rindo se eles riem, consolando se eles choram.
A que canta com voz embargada pela dor, nó na garganta abafado vezes sem conta, o medo escondido pela doçura da voz.

A mulher família, o amor mais do que tudo, a mãe dos filhos que pariu, que transportou e alimentou com o seu sangue.

Mulher-mãe... como não glorificar o corpo que acolhe no seu seio o futuro da humanidade que depois a abandona com promessas de grandes feitos e conquistas, membro amputado num só momento, a parte melhor de si própria, espelho com reflexo brilhante, amor que não tem fim...





A mulher, a amante sagaz, tantas vezes fugidia. A mulher impossível de adivinhar... que prazer? Pernas que se abrem, qual lareira convidativa, fogo que arde e se vê, aconchego do seu homem ou dos seus homens...




A mulher que desafia o tempo, as estações, dissimula rugas, as más e as boas, cura doenças de si e dos outros qual maga poderosa, dona de poções e palavras mágicas.

A mulher submissa, cão fiel de quem a afaga. A mulher fogosa, impossível de dominar. A mulher onírica, senhora dos segredos nunca sussurrados. A mulher sofrida, dores reveladas no olhar.

A mulher bela ou menos bela, com voz de mar, passos de bailarina, seguindo pela vida como uma brisa de primavera, enfrentando o inverno de dias menos bons com o sorriso de lareira acesa. Como não morrer de paixão?

Nos seus braços cabem filhos, homens, família e amigos, para todos um aconchego, ainda que nada sobre para si.
No fim dos dias, no fim das horas, no ocaso do tempo, de pé permanece a mulher-vida, bem ou mal vivida, como uma antiga árvore, raízes regadas pelas lágrimas, folhas amarelecidas pelo outono das memórias. De pé, sempre de pé!



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