domingo, 23 de agosto de 2015

SILLY SEASON, SILLY US!

Estamos em plena "silly season" e, a exemplo dos outros anos, o nosso comportamento altera-se com o aumento da temperatura, daí o inglesismo.

Passei este merdoso porque chuvoso domingo a pensar em assuntos pertinentes, tal como um estudo sociológico que levei a cabo durante esta semana.

Utilizei o universo do Facebook e o meu extenso grupo de amigos como cobaias desta interessante experiência.

No dia 17/08/2015, publiquei uma reportagem fantástica do New York Times dando conta da situação inacreditável em Angola, país onde mais crianças morrem por falta de assistência médica ou medicamentosa, deixando médicos e enfermeiros em situação de grave impotência:
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No dia 04/08/2015, solicitei a partilha de um apelo de uma menina com uma forma de epilepsia grave cujos pais necessitam de ajuda financeira (lembro que 1 euro a cada um de nós, significaria 1,813 euros para a Carolina):
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No dia 21/08/2015, partilhei fotografias minhas, de biquíni, na praia:
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Se eu tivesse feito um pequeno texto para acompanhar as minhas fotografias dizendo que o meu cabelo foi cortado por mim, num momento de enorme frustração e cansaço, farta de entupir o ralo com a minha queda de cabelo, que as dores que tenho transpareçam para os outros, que já não consigo achar-me bonita, que acordo todos os dias sem saber onde estou, nem em que dia, nem em que mês, que os analgésicos me retiram a energia e destreza mental, que a memória recente me falha todos os dias, que nunca sei como vai ser o dia de amanhã, que a minha vida corre à volta de mais ou menos dores, de mais ou menos cansaço. Se eu tivesse dito metade de tudo aquilo que sinto, penso que poucos leriam até ao fim.

Este texto não é uma acusação (antes pelo contrário, agradeço os elogios e, acima de tudo, o modo respeitoso com que mos dirigiram, quer no mural, quer por mensagem privada). Este texto é uma constatação de que todos nós recusamos ver o sofrimento, a doença, a pobreza, a desgraça alheia porque vivemos alheados na nossa própria miséria e esta rede social serve perfeitamente o nosso propósito de aspirar a um mundo perfeito com momentos de ternura, risos e sorrisos em abundância, férias, carros, motas, jantares,famílias felizes e alguns comentários mordazes sobre política, futebol e religião.

Não sou diferente, eu nunca abro vídeos de violência sobre crianças, adultos ou animais. Recuso-me a ver porque o meu estômago não suporta. O sofrimento alheio perturba-me realmente e eu tento que o meu próprio sofrimento, o do meu filho, o meu pesado percurso de vida não apaguem esta vontade que sempre morou em mim de tentar fazer um mundo melhor, através de um sorriso, de uma palavra, de um abraço ou de algumas horas roubadas ao nosso dia a dia em prol dos outros.

Isto é um bocadinho de mim, o resto é só um corpo.

Fiquem bem!



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