segunda-feira, 28 de agosto de 2017

CRÓNICA FEMININA - Correio Sentimental 1


Os meus fieis e leais seguidores devem estar a perguntar-se porque razão fui eu buscar uma publicação dos idos anos 60 para misturar com esta página repleta de temas actuais e fracturantes. Passo a explicar:

Há alguns anos atrás, após o meu 1º divórcio e chegada ao fim a 1ª união de facto, pós 1º divórcio, fui abordada por um vizinho, cuja mulher me fazia sua confidente, que me perguntou qualquer coisa como isto - "Tenho que te pedir um favor... tu tens muita experiência nestas coisas do amor e podias ajudar-me a reconquistar a minha mulher, davas-me uns conselhos...". Ali estava eu, especada no meio da rua, com vontade de fugir, as chaves de casa a queimar-me as mãos, sabendo que bastava ter subido o passeio para me livrar deste embaraço. Pior, estava ainda mal refeita dos meus dois primeiros fracassos amorosos e apenas conseguia pensar - "Só podes estar a gozar? Qual é a parte das separações que tu não percebeste? Experiente no amor? Por favor, se eu fosse experiente estava aqui a ouvir-te?".

Rapidamente, como sempre, aliás, recompus-me e devo ter debitado algumas frases feitas sobre o amor, sem qualquer relação com a minha "alegada" experiência e deixei-o mais reconfortado. Segui o meu caminho, lamentando conhecer o desfecho da sua relação pois a sua mulher já mo havia confidenciado mas eu não tive coragem de lhe partir o coração. Vim a saber mais tarde que estão divorciados (espero que não por causa dos meus conselhos).

Malgré tout, pela minha vida fora fui sendo confidente leal e silenciosa de um sem número de amigos e amigas. Já estou cá há anos suficientes para ter vivido, visto e ouvido todo o tipo de queixas, amuos, discussões, infidelidades, sofrimento, raiva, despeito, incompreensão, desrespeito, etc. Resolvi agora, chegada à idade adulta, partilhar convosco a minha extensa sabedoria nestas andanças do amor e desamor com o sincero intuito de evitar engrossar as filas da Conservatória do Registo Civil ou dos Tribunais de Família com casos extremos (em número e em género) como os meus.
Assim sendo, vamos ao que interessa...

CAPÍTULO I 

Devo "vigiar" a página de Facebook do meu namorado, marido ou ex?


O bom senso e o politicamente correcto obrigam-me a dizer que não, não deve fazê-lo de todo. Uma união deve ter como pilar fundamental a confiança e o respeito mútuos. Se o seu companheiro está consigo, é porque quer e porque gosta realmente de si.
Muito certamente, se ele usar o Facebook para a trair, entenda que não o poderia evitar, simplesmente porque ele fá-lo-ia de qualquer maneira.
E o Facebook é só um caminho, cada um escolhe a maneira de o percorrer mas, grosso modo, as coisas não são assim tão diferentes do nosso dia-a-dia.
Claro que isto é muito bonito empiricamente falando. Na realidade, existe um Sherlock Holmes dentro de cada uma de nós à espera de começar a investigar ao mínimo sinal de alarme. Não conseguimos evitar, está muito presente no nosso código genético esta necessidade de investigar, apurar e extrapolar o comportamento do nosso cônjuge.

Quando recebi os primeiros sinais, comecei uma investigação tão apurada, tão apurada que consegui saber mais da vida das amigas virtuais do meu marido do que ele próprio (contagem de likes, comparação de datas, identificação de perfeitos desconhecidos, de locais e tanto mais). Evidentemente, nada consegui evitar e quando passaram de virtuais a pessoais, não fizeram publicações nem actualizações e eu nem tive tempo de "fechar a sessão" antes do "crash" final.

Informática à parte, já consigo rir-me do ridículo, triste e desnecessário que é andar à "pesca" no Facebook. A realidade é que, enquanto estava ocupada a pescar peixe miúdo em águas virtuais, a rede do meu marido já levava uma boa dose de pescado lá dentro.
Ficou como lição aprendida e decorada!

Bem sei que a nossa curiosidade mórbida nos leva, de tempos a tempos, a dar um passeio pelos perfis de quem já foi tão importante para nós, quanto mais não seja, para ver como estão a sobreviver sem a nossa (in)dispensável presença com a vã esperança de que eles nunca mais encontrem a felicidade com quem quer que seja ou que estejam a sofrer horrores à conta do arrependimento ou que tenham uma companheira mais nova e mais esperta que os faça provar o próprio veneno tão cedo quanto possível.
Se bem pensei, melhor o fiz e encontrei a frase quase infame - "Numa relação".
Rapidamente, o diabinho que vive no meu ombro aconselhou-me a deixar um sem número de comentários pouco elogiosos, repletos do mais perfeito vernáculo tripeiro, até porque ainda somos casados, logo, poderia exercer o meu direito à indignação de modo perfeitamente legal.

Felizmente, veio em meu socorro o meu anjinho do amor-próprio e da auto-estima que me arrancou bruscamente do meu portátil (não sem que antes anotasse mentalmente o nome de cada um dos amigos que fez like na tal publicação como se de uma segunda traição se tratasse). Tive tempo ainda para reparar que o meu futuro ex-marido afirmou não estar comigo há 4 anos, roubando-nos 2 anos de vida em comum!
Ora bolas, quem será o cavalheiro que, durante esse período, comigo partilhou a cama em noites de tórrida paixão, a mesa em jantares feitos por ele e a roupa lavada?

No entanto, as notícias são muito boas para as minhas amigas: ao fim de 2 anos, luto feito, coração refeito, a vida já nos sorri e a memória do casamento já se esfumou há muito, reduzindo a menos que nada aquele que connosco ficaria "na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza até que o Facebook nos separe".



A vossa amiga de sempre


Cristina Magalhães







sábado, 12 de agosto de 2017

PORTUGAL A ARDER!




Aproveito esta muito oportuna frase de Miguel Torga para fazer uma "mea culpa" em meu nome e em nome de todos os meus concidadãos.

Só porque estou furiosa, indignada!





Estes seres misteriosos e repletos de pseudo superioridade que respondem pelo pomposo nome de "governantes da nação" continuam, ad eternum, a fazer de nós pacíficos mentecaptos a quem todas as barbaridades podem ser ditas pois não existe viv´alma que os interpele quando o fazem.

Veio o Sr. Secretário de Estado da Administração Interna, em comunicado oficial, transmitir aos portugueses e portuguesas que o SIRESP (Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal) tem falhas desde a sua adjudicação mas que, uma vez que apenas falta pagar cerca de 80 milhões dos 600 milhões de euros totais, será impensável resolver o contrato pois teria custos muito mais elevados. E nós, ouvimos, calamos e vamos para a praia!

Se a minha operadora de comunicações falhar, eu devolvo o material para reparação, para substituição ou avanço para a devolução, resolvendo o contrato.É assim que funciona o mais básico dos contratos de fornecimento de serviços e dos quais só depende o meu bem estar (não são vidas). Todos nós protestamos nos mais diversos balcões, avançamos com ameaças de processos judiciais na certeza de que estamos a dar por bem empregue o nosso dinheiro. 600 milhões de euros não é dinheiro suficiente?
Este dinheiro é literal e pontualmente arrancado a cada um de nós, contribuintes e não há uma alma que se indigne realmente contra a gestão danosa que todos governos (à esquerda e à direita!) têm vindo a praticar ao longo dos tempos?
Compram-se submarinos, queima-se literalmente dinheiro à conta do SIRESP, são absurdos atrás de absurdos e nós somos heróis da resistência em terras de facebook ou no pão quente mais próximo!
Onde está o nosso exército? Onde estão os nossos aviões? Em que raio de merda é que está a ser gasto o dinheiro dos contribuintes?


Assistimos também a esta palhaçada que é o aproveitamento partidário na atribuição de responsabilidades, como se cada governo tivesse responsabilidade directa no número de incêndios ocorridos durante a sua legislatura. Meus senhores, lamento desapontá-los mas a má gestão dos incêndios, a inexistente atitude preventiva em relação aos mesmos, a péssima gestão de recursos no seu combate, a ausência de preocupação com o ordenamento florestal é transversal a todos os governos desde há muitos anos atrás. E nós sabemos mas vamos para a praia!


Somos o país que tem mais de metade de área ardida de toda a União Europeia e, provavelmente, com menos recursos preventivos ou de socorro. Bora lá celebrar mais este ranking? Não somos famosos apenas pelo futebol ou pela Eurovisão, também somos pelos incêndios e, agora, até pelo número de vítimas!


E mais, todos sabemos como o eucalipto é nocivo, todos sabemos que o eucalipto é mais inflamável do que muitas outras árvores e todos devíamos saber que se trata de uma planta oportunista que desequilibra a nossa flora mas todos sabemos a quem é útil esta plantação desenfreada... celulose, por exemplo, diz alguma coisa?

António Costa teve o azar de ficar com Pedrógão Grande às costas durante a sua legislatura mas nem assim teve "tomates" para resolver o contrato com o SIRESP. Meu senhor, morreram adultos, morreram crianças que dependiam do bom funcionamento desse sistema, que dependiam da protecção do Estado em caso de catástrofe eminente! Não é justa causa para resolução do contrato? Esqueceram-se de acrescentar cláusulas? O SIRESP nós sabemos quanto vale... e as vidas que ficaram em Pedrógão, que valor têm?

E nós, portugueses de brandos costumes, litigantes de merda no Facebook, aplacamos o peso do nosso silêncio, da nossa apatia telefonando para o 760... e sorrindo de alegria e alívio diante da solidariedade demonstrada por nacionais e estrangeiros. Em seguida, vamos para a praia!

Que nunca mais alguma voz se erga contra os nossos bombeiros, heróis voluntários sem nome, atirados para monstros de fogo cuja força desconhecem até ao momento em que se encontram frente a frente, abandonados à sua sorte por um SIRESP qualquer!
São os únicos a merecer grata homenagem por parte de todos os portugueses!
Que Deus vos proteja!


quinta-feira, 1 de junho de 2017

ALICE NO PAÍS DO VICODIN



Qual Alice no País das Maravilhas, tenho vivido, desde 2014, num constante rodopio terapêutico para controlar a dor crónica que me acompanha incansável e diariamente, com algumas "nuances" na sua intensidade (dói menos, dói mais mas dói sempre). Tenho sincera e autêntica dificuldade em responder à pergunta repetida, consulta após consulta, sobre o grau de intensidade da dor, calculada com uma "régua" numerada de 1 a 10. A médica não esconde um sorriso quando eu digo que o máximo que sinto é um 7 ou um 8 porque reservo o 9 e o 10 para as dores que desconheço.

Com o intuito de dar aos pacientes que sofrem de dor crónica algum conforto e alívio, os médicos prescrevem drogas, naturalmente.

E é de drogas que venho falar:

Nunca achei que a liberalização das drogas leves tivesse um efeito significativo na luta contra o tráfico de estupefacientes pois diz-me o bom senso e alguma experiência que existe uma tendência, perigosamente elevada, para escalar esse caminho em direcção a um falso mas muito desejado incremento do prazer. Na maioria dos casos (e a minha geração foi muito fértil nesses acontecimentos), a escalada faz-se num ápice, seguindo-se uma descida aos infernos do vício de uma forma ainda mais veloz.

Tentei, ao longo da minha vida, exceptuando na adolescência (período durante o qual a experimentação era quase obrigatória), manter-me do lado acordado e sem anestesia das barricadas da vida. E consegui, até 2014!!!

Um solavanco na minha saúde fez com que passasse a depender do consumo diário de opióides, em tudo iguais ao infame Vicodin, vício do não menos infame Dr. House. Tento fazer a medicação com um olho aberto e outro fechado. O olho aberto mantém-me alerta para detectar qualquer sintoma, por mínimo que seja, de dependência ou adição. O olho fechado mantém-se fechado porque nem quer saber... desde que a dor diminua!


No entanto, é com grande apreensão que assisto à evolução desta doença, às modificações em mim operadas e ao aumento gradual das doses diárias. Concluí que esta é uma questão de matemática traumática:

Comecei em 2014 a tomar 100 mg./ dia. Em 2017 estou a tomar 300 mg./ dia. Se o tecto máximo são os 500 mg. diários, restam-me 2 anos antes que a medicação deixe de fazer efeito. Lá no horizonte, espreitam os pensos de morfina, os quais evitarei enquanto for humanamente possível.

E é neste momento que se torna essencial a discussão em torno das aplicações terapêuticas da Cannabis, dos prós e contras da sua utilização e do estudo dos seus efeitos adversos ou secundários. 

Tranquiliza-me muito saber que o nosso governo se vai pronunciar a favor da sua despenalização, mais que não seja para não me aturarem aqui no meu blogue, página que, bem sei, será exaustivamente visitada por todos os elementos da Assembleia da República, sem excepção!!!

Pesa ainda mais o facto de vivermos numa imensa nuvem de hipocrisia que permite uma exploração de Cannabis em solo nacional para posterior comercialização no Reino Unido, sob a forma de medicamento a utilizar no alívio de diversas enfermidades, com a devida autorização do Infarmed e direito a uma respeitável publicação no Diário da República.

No entanto, se eu der voz ao meu direito de escolha, terei que ir à Corunha, munida de uma receita arrancada a um qualquer médico espanhol para comprar o Sativex, o Nabilone ou o Marinol, medicamentos legalmente comercializados em diversos países europeus (incluindo na vizinha Espanha, desde 2010) ou nos EUA (onde estão devidamente regulados e aprovados pela FDA) arriscando-me a que, no meu regresso a Portugal, as autoridades me detenham e eu passe a ser "portadora involuntária" de vergonhoso cadastro criminal.

Em qualquer destes países, os estudos comprovam o alívio da dor crónica, melhorias na esclerose múltipla, doença de Parkinson ou epilepsia, actuam também no alívio de náuseas, incluindo as provocadas pela quimioterapia. Também se reconhecem aplicações no combate à obesidade, certos tipos de cancro, doenças inflamatórias e dermatológicas. 
Trata-se de uma espécie de poção mágica com as mais diversas aplicações e, talvez por esse motivo, as grandes empresas farmacêuticas não tenham interesse económico em explorar as potencialidades desta planta pois um só medicamento poderia vir a substituir um sem número de outros.

No que a mim diz respeito, entre usar medicamentos derivados da planta do ópio em comprimidos ("heroína em blister", segundo um farmacêutico com quem falei) ou usar medicamentos derivados da planta da cannabis com os níveis de THC (composto psicoactivo ou "moca") substancialmente reduzidos, optaria certamente pela segunda. Até porque os primeiros provocam náuseas e têm índices de dependência muito elevados pois a tolerância medicamentosa obriga a constantes ajustes, tal como verifico actualmente.

Senhores legisladores: 

Vou ficar a aguardar pela decisão mais coerente mas aviso desde já que não aguento estar sentada muito tempo! E adoro, adoro, adoro a agricultura! :)








quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

MR. TRUMP AND THE TRUMPET´S

Foi com uma imensa e desadequada, porque tardiamente inocente, estupefacção que acordei para o que realmente se está a passar no mundo.
No "meu Facebook", local que frequento, mais ou menos regularmente, desde 2009, li com os meus olhos, com os meus óculos afinados na graduação certa, três exemplos de racismo grosseiro, bacoco e, até hoje, bem disfarçado.
Perguntei-me porquê, porquê agora? O que aconteceu?

E fez-se luz!!!

Aconteceu o Mr. Trump e, a pouco e pouco, vamos assistindo a um crescendo no número de apoiantes que corroboram as suas odiosas teorias. Encarei a sua eleição para presidente dos EUA com um misto de incredulidade e temor. Vejo agora que tinha sérios motivos para isso. As afirmações sexistas e racistas deste senhor já são conhecidas de há algum tempo e a democracia plena dá-lhe o direito de se pronunciar sobre o que quer que seja, ainda que menos politicamente correcto.
Além dos comentários maldosos com que esse senhor sempre nos brindou, sabemos, pelo seu não muito claro passado, que é um homem sem grande educação ou esclarecimento, que trata as mulheres como objectos (as dele e as outras) e que adora o brilho do ouro e dos "brinquedos" de luxo. O que eu não esperava era que os destinos de uma das maiores potências mundiais lhe fossem entregues para ele brincar às presidências com todos os perigos inerentes.
A sua eleição deu origem a que hordas hostis saíssem debaixo das pedras lodosas dos pântanos da intolerância e do ódio, onde habitavam escondidos temendo a Democracia e os Direitos Fundamentais dos seres humanos.
Eis que começam a rastejar pelas redes sociais, sem vergonha nem remorsos, afinando as suas funestas melodias, dignas de verdadeiros Trumpetes que são, atirando frases como: "... voltem para a vossa casa, macacos sem rabo...", "... porque é que estas porcas foram para os EUA? Podiam ter ficado na Arábia..." e ainda "...baboon, cor da merda...", esta última dedicada a um dos meus mais queridos, inteligentes e cultos amigos, cujo sentido de humor invejo, confesso.

Ajudem-me a recordar alguns factos: não foram "brancos" os responsáveis pelo Holocausto? Não foram "brancos" que quase exterminaram as tribos da Amazónia? Não foram "brancos" a escravizar e assassinar diversos povos no continente africano? Não foram "brancos" a reduzir os índios americanos a gado em reservas depois de assassínios em massa?

Parece-me que caminhamos a passos largos para a trivialização da violência, para a banalidade do Mal e, a meu ver, essa é a única diferença real entre nós, seres humanos, irmãos na nossa Criação tão perfeitamente imperfeita, o Bem e o Mal, eterna dualidade que nos dividirá ad eternum.

 Eduquei os meus filhos na generosidade, na solidariedade, no respeito (não tolerância mas respeito) pelos demais, nos valores fundamentais como a amizade, o amor incondicional pelo próximo, os mesmos que eu própria recebi.

Estou verdadeira e sinceramente chocada com estes comentários. Respeito toda a gente mas na minha casa só entra quem eu quero. Posto isto, agradeço a todos e todas que de alguma forma professam estas ideologias que façam o favor de se retirar do meu grupo de amigos...

Eu, ao contrário do Sr. Trump que pretende uma limpeza étnica, tenciono fazer na minha página uma limpeza ÉTICA!






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